
Corria o ano de 1992 quando foi inaugurado o Adlertum Dortmund, na cidade Alemã de Dortmund. No alto da torre encontrava-se um menino, filho de portugueses, com o olhar preso na vastidão infindável de blocos industriais sobre o Vale do Ruhr, a região mais industrializada da Europa. Chamava-se Daniel e os seus pensamentos dividiam-se entre jogos de bola com os amigos, o dia-a-dia na escola, a mãe Donzília, o pai Manuel, os irmãos e gelados, curiosamente.
O Daniel sempre gostou de gelados e tratou, ainda sem dentes, de comer o primeiro que lhe apareceu à frente. Os anos passaram, e pouco ou nada mudou. Melhor será dizer que piorou drasticamente quando a mãe começou a trabalhar na gelataria Cortina, sob a tutela do Signore Peppi, o mais genuíno gelateiro italiano, ao qual não faltava o famoso chapéu tricolor, a pronúncia acentuada ou o virtuoso calão. O mestre Peppi, verdadeiro entusiasta da arte da gelataria, dava a conhecer a magia do gelado artesanal junto dos mais novos, que juntava à porta do estabelecimento para provar os mais recentes e exóticos sabores.
Certo dia, decidiu-se o Signore Peppi regressar à pátria e trespassar a gelataria. Dito e feito, agarrou-se a oportunidade à vista e tornaram-se assim os Costa gelateiros, com produção própria, no seguimento de uma tradição rica em saber, transmitida do próprio Peppi ao Manuel, da Itália para a Alemanha, pelas mãos de portugueses. Oito anos depois, na viragem do milénio, regressam a Portugal com uma bagageira cheia de ideias e planos para a criação de uma gelataria na região de Aveiro. Tarefa árdua face às burocracias habituais que atrasou em dois anos a abertura. Ainda assim, é inaugurada na Rua João Corte Real, nº93, no dia 12 de Julho de 2002, a Gelataria Milano da Praia da Barra, seguindo o nome da cidade italiana de eleição do Daniel. Durante o resto do verão não fecharam um único dia. A afluência era tal que abriam das oito da manhã às três da madrugada. Conta-nos o Daniel que “era uma loucura, uma novidade que atraia toda a gente! Fosse pelas copas, pela variedade ou pelo preço, todos queriam experimentar.”
Desde 1998 que o Daniel trabalhava no negócio da família. Do pai formou-se o artífice. Da mãe, o empresário, o líder e a pessoa. Esta fusão de valências, aliada a uma ideia que vinha de longe, juntou-se aos incessantes pedidos de clientes por uma gelataria em Aveiro. Foi em 2014, seguindo a sugestão do Sr. Leonel “dos Cortinados”, que mãe e filho encontraram o espaço que há tanto procuravam, justamente na Praça 14 de Julho, porta 7, na antiga Casa dos Cortinados. Apenas precisaram trocar um olhar, para que poucos meses depois, no dia 19 de Setembro de 2014, abrisse a famosa e muito desejada Gelataria Milano de Aveiro.
A visão particularmente assertiva de Daniel é a chave para entender o sucesso da Milano. Primeiro, a casa serve sete dias por semana e só encerra portas no natal e na passagem de ano, entre as dezoito horas da tarde do dia 31 e as nove da manhã do dia 01. Segundo, os sessenta sabores existentes são de produção artesanal da mais alta qualidade, com sabores únicos, como o Flor de Sal, o Cheesecake de Ovos-Moles ou o Chocolate Negro com Gengibre, para completar, as variantes sem lactose ou gluten, ou mesmo o gelado dietético. Terceiro, a equipa altamente qualificada de quatorze funcionários no verão e dez no inverno, encontra-se em constante formação para um atendimento de excelência. Quarto, a atmosfera familiar que resultou do corte com a formalidade tradicional da gelataria italiana, faz as delícias dos aficionados da casa. Uma receita de sucesso que não se fica por aqui. O Daniel pretende expandir a área produtiva da gelataria e aumentar o leque de ofertas. As surpresas não se farão esperar em demasia. Desde a venda a grosso para restauração, serviço de casamento e festividades à venda móvel de gelados em festivais.
Um extraordinário percurso com um último segredo — “Tinha que conhecer a minha mulher na gelataria!”, e assim foi. Poucos anos após a abertura da Gelataria Milano na Praia da Barra, o Daniel conheceu a Mónica, com quem viria a casar em 2006 e com quem tem dois filhos, a Yara e o Enzo, herdeiros do gosto pelo trabalho e tão motivados em comer gelados quanto o pai era na idade deles. Repete-se assim, o ciclo da vida, como anos atrás aconteceu, quando o pai Manuel deixou um valioso conselho ao filho, o qual se tornou missão e mote de toda a família — ”Isto não é só pôr os ingredientes certos! Temos que pôr paixão.”
E assim é, a história de uma família que transforma amor em gelados.